sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

DORA KRAMER

Daqui a dez dias o Parlamento brasileiro terá novos presidentes, sem que essa troca de comando tenha o menor significado para os brasileiros ali representados. O Congresso se denomina o Poder "mais aberto da República" e, em tese, é mesmo. A prática, porém, suscita uma inevitável dúvida: aberto para quem o para o quê? A julgar pelo conjunto da obra e observando particularmente o que se diz e o que se faz nesses dias de, digamos, "campanha eleitoral", os espíritos por ali só andam abertos aos interesses internos. Apenas candidatos em princípio sem chance de vitória e as fracas e dispersas vozes que não se aliam à apatia geral falam sobre a necessidade de o Parlamento buscar o caminho da recuperação da dignidade e das prerrogativas institucionais que conferiu a si ao elaborar a Constituição de 1988. O buraco é tão profundo que nem esses encontram fôlego e espaço para debater temas específicos da agenda congressual. Ficam no protesto, aparente e compreensivelmente cansados de uma guerra até agora perdida. O restante - aí incluídos os citados como favoritos para as presidências da Câmara (Henrique Alves) e do Senado (Renan Calheiros) e a maioria das bancadas partidárias - só trata das paróquias e dos arranjos corporativos. Servem-se das Casas quando o esperado seria que servissem ao Parlamento, síntese da democracia representativa. Para Calheiros e Alves o que interessa mesmo é fazer dos cargos instrumentos de preservação de poder nos respectivos Estados de Alagoas e Rio Grande do Norte. Duas notícias nesta semana - uma publicada na Folha de S.Paulo, outra no Estado - mostram bem isso. O alagoano se vale da influência na Caixa Econômica Federal para carrear recursos para habitações populares em municípios sob seu comando político e, de quebra, alimenta o faturamento de empreiteira cujo dono é sócio do filho do senador. O potiguar reúne prefeitos de seu Estado para convocá-los à posse já dada como certa na presidência da Câmara. Falando dos entraves burocráticos e da má vontade do governo federal em atender prefeitos, garante que, "de braço dado" com ele, terão os caminhos desimpedidos. (Está valendo muito a pena ler este artigo da Dora Kramer que eu afanei do blog do Noblat.)

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