segunda-feira, 25 de julho de 2011

GLORINHA

30ª Semana Cultural – Maria de Fátima Barreto Michels traz para uma entrevista com Glorinha, uma lagunense que marcou uma época com sua música.
- As comemorações da XXX Semana Cultural de Laguna incluem a homenagem especial aos seresteiros, nos quais você está incluída. Você poderia contar-nos um pouco da trajetória do Regional da Glorinha?

GLORINHA – tudo começou por influência do meu pai, Braz da Silva Barreto, que tocava cavaquinho e, além dos clássicos chorinhos que exercitava por prazer nos finais de semana, chamava-me para cantar com ele muito bolero e samba-canção. Eram, inicialmente, reuniões em casa onde participavam meus irmãos Walmor, Célio, Vamilsom e meu cunhado Milton. Esse termo “Regional da Glorinha” veio depois, antes era a “Charanga do Braz”. Ambas denominações foram criadas e consagradas pelo público.

- E a música sertaneja também rolava?

GLORINHA –Nossas músicas eram do repertório de Clara Nunes, Demônios da Garoa, Martinho da Vila, Beth Carvalho, eram composições do Cartola, coisas que sempre tiveram grande aceitação por parte do público. Muitas permanecem sendo regravadas, são temas de novelas atuais. São composições com melodia envolvente e letras de pura poesia.

- Nos anos sessenta você, bem jovem e ainda solteira, morava no Campo de Fora, pertinho do Clube Anita Garibaldi. Foi uma época boa para dançar?

GLORINHA – Sim, a gente participava de bailes chiques com grandes orquestras. Nos bailes de carnaval, prolongávamos a música para durar até de manhã, competindo em duração com o Clube Três de Maio. Outra festa bacana que todas as moças queriam participar era o Desfile da Bangu. Esse era um evento de moda organizado pela Dona Joana Mussi para angariar dinheiro para o asilo Santa Isabel. O desfile era esperado com muita expectativa. A gente ganhava o tecido da fábrica Bangu para criar, confeccionar e desfilar competindo. Era muito prestigiado pelo público.

Quando sentiu que pertencia ao universo da arte de cantar? Em que momento você percebeu que havia um público? Conseguiu ganhar dinheiro com a música?

GLORINHA – Nós começamos a frequentar os primeiros quiosques que surgiram na orla da praia do Mar Grosso. Aos sábados, no verão, ali ficávamos tocando e cantando por nossa conta, diversão e gosto. Nossos primeiros fãs foram casais do centro histórico que iam até a praia e ficavam por ali curtindo como, por exemplo, os professores Dona Betinha Ulysséa e José Paulo Arantes, ouvintes fiéis. Um dia, aproximou-se um grupo de argentinos. Eles se mostraram encantados com nossa música e, depois de calorosos aplausos, um senhor colocou um lenço sobre meus ombros dizendo:- la glória és tu! Depois dessa fase de brincadeira, começaram a surgir os convites já com algum caráter comercial. Lançamos, dessa forma, a música ao vivo na praia, como fator de atrair clientela. Éramos chamados para animar aniversários, festas familiares etc. Assim, o universo da música era também o da família porque me casei com Sidney Pegorara que se integrou ao conjunto. Dinheiro não ganhamos, mas a música foi a melhor coisa que aconteceu em nossas vidas.

- Recentemente, vimos reportagens mostrando o renascimento de grupos de seresteiros que atuam em grandes centros ou cidades de médio porte, atendendo aos pedidos dos românticos e momentos especiais em apartamentos ou jardins residenciais. Como você vê o que toca no rádio atualmente? A Glorinha cantou em muitos eventos fora da cidade. Alguma lembrança especial?

GLORINHA – Acho que a música de seresta e, especialmente, a que pede cavaquinho, violão, bandolim, banjo, cuíca, pandeiro, tantã, afoxé, faz parte da alma brasileira, porém ela é bonita ao vivo. Nosso conjunto fez apresentações em festas e eventos fora de Laguna e sempre houve ótima aceitação. Uma vez, fomos nos apresentar em Florianópolis, no palácio da Agronômica. Quem nos levou foi o seu Edio Oliveira para um encontro de governadores na gestão de Pedro Ivo, quando recebemos muitos elogios. Em outra oportunidade, apresentamo-nos na Festa do Divino, em Barra Velha, e fizemos muito sucesso. Aqui mesmo na Laguna chegavam grupos de outras cidades que vinham especialmente para nossas apresentações.

- Com qual música gostaria de ser ninada no céu? Gosta de Mercedes Sosa?
GLORINHA – Há uma música tema de um filme de Charles Chaplin assim (aqui a entrevistada cantarola um laralará) não tenho certeza se é arco-íris o nome. Mercedes Sosa? Voz inesquecível e extremamente bela. Gosto muito de “Eu só peço a Deus” (aqui a cantora deu mais uma palhinha).

- Você foi a primeira filha da Dona Custódia entre os dez irmãos, foi funcionária pública, é esposa, mãe e avó. Como conciliou a atuação em shows com a vida pessoal? Quem liderava o grupo musical?

GLORINHA – A família é tudo de bom na vida da gente e acho que meus filhos sentiram um pouco ao ter que me repartir com a música. Não havia exatamente um diretor, tudo transcorria naturalmente na família. E fizemos também parcerias nesta caminhada.

- Poderia nos citar os artistas com quem vocês tocaram e cantaram eventualmente?

GLORINHA – Sim com muito prazer:
Braz – cavaquinho
Sidney – pandeiro
Nalba Cordeiro – vocal e afoxé
Neri (Brasa) – surdo
Santos da Silva – bandolim
Helinho – tantã
Catarina – cuíca
José Lino – banjo
Aurélio – violão
Os irmãos Arnô e Licélio – violão e cavaco

- Você atuou puxando samba-enredo em desfile de escolas de samba no carnaval, quais foram?
GLORINHA – Sim puxei muito samba-enredo com as escolas Bem Amado e Democratas.

- O mundo da música perdeu neste sábado a maravilhosa compositora e cantora Amy Winehouse. Porque acontece tanto esta tristeza na vida de gente talentosa que se refugia no álcool e sucumbe à dependência química?

GLORINHA – Nessa vida boêmia do artista da noite há que ser muito forte para escapar do álcool, do fumo e das drogas. A noite e a música são dois ingredientes sedutores e a bebida está sempre como um convite para ampliar a sensação de fantasia e encantamento. Veja o exemplo do Nelson Gonçalves, o quanto sofreu para se livrar das drogas. Esse rumo tomado torna muito difícil a volta.

- O que gosta de fazer como lazer? Ainda canta? O que significa esta homenagem na Semana Cultural? O que é a Laguna para você?

GLORINHA – Adoro estar com minhas irmãs jogando uma canastra, curto muito fazer palavras cruzadas, ouço diariamente o rádio. Gosto de estar na minha casa preparando um peixinho, uma língua, um feijão, na companhia do marido. Enfim, a família é a base de tudo e criamos inclusive o Bloco Barreto que anualmente brinca no carnaval de salão. Não canto mais em shows, apenas uma palhinha de vez em quando assim para amigos. A homenagem da Semana Cultural traz muita alegria, mas acho que nem mereço tanto! O que é a Laguna? É o melhor lugar do mundo!

- Aceita uma coletânea de autores lagunenses?

GLORINHA – Vou ler com muito prazer!

Um comentário:

  1. Baetaaaaaaaaaa! Poxa que legal encontrar aqui a matéria da entrevista!
    Obrigada, amigão! Beijo da Fatima.

    ResponderExcluir